No momento, não quero ler palavras de auto-ajuda daqueles livros que dizem o mesmo clichê de sempre: Você conseguirá, sorria, a vida é bela, mas ninguém te come. No momento, não quero ler textos deprimentes que mostram que a morte é a melhor solução, que cortar os pulsos te leva para o abismo, que a escuridão pode ser tão boa quanto a claridade, que ser emo não é pecado. No momento, não quero ler palavras cômicas explicando a diferença do homem e da banana, mostrando o cruzamento de um jumento com uma lâmpada florescente, nem ler o blog do Tiririca. No momento, quero ler palavras quaisquer. Pode ser o dicionário com sua metalinguagem. Ou as palavras dele no MSN. Quem sabe até aquelas nos outdoors que eu nunca leio. Ou nas cédulas velhas e rabiscadas de R$2,00. Já sei! Nos papéis que insistem em me entregar toda vez que passo no calçadão de Nova Iguaçu "Ganhe dinheiro rápido!". Quero ler palavras que não lembrem as palavras 'incapacidade', 'inutilidade'. Ó, não. Lembrei de tais desgraçadas. Eu quero ler palavras que não sejam pensadas e previstas, que não saiam premeditadas. Que cheguem assim como não quer nada. Que saiam e apareçam na hora em que eu estiver no banheiro fazendo o número dois, ou vomitando o almoço, quem sabe a janta. Que saiam no momento mais natural. Que venham na hora que eu preciso, sem eu precisar.
Preciso ler palavras que digam 'sim', pois quero ouvir 'sim'. E palavras que digam 'não', pois seria legal ouvir um 'não' não premeditado. Quando estou mal, não quero ouvir que ficarei bem. Um abraço, um olhar, um sorriso. Esses dizem textos com o silêncio. Textos que quero ouvir. Que quero ler.